quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Malhação em alta em Brasília






A chefe de cozinha Adriana Lobo encara a atividade física como um investimento e gasta, em média, R$ 600 por mês para cuidar do corpo e da saúde

Em busca de saúde, do corpo perfeito ou dos dois benefícios ao mesmo tempo, o brasiliense incluiu os exercícios físicos na rotina. Cerca de 300 mil pessoas — 11% da população do Distrito Federal — estão matriculadas em academias, estabelecimentos que não param de se proliferar. Contam-se mais de 600 delas em todas as regiões administrativas, número quatro vezes maior do que há 15 anos. No DF, existe uma academia para cada 4,3 mil habitantes. Em São Paulo, o maior mercado fitness do país, a proporção é de uma para cada 5,5 mil paulistanos. O mercado candango avançou tanto e de maneira tão rápida que assusta os próprios empresários. Entre eles, já se fala em saturação.



Pesquisa feita pelo Instituto Fecomércio, e obtida com exclusividade pelo Correio, indica um aquecimento acentuado desde 2008. No estudo, foram analisados três segmentos: academias, suplementos alimentares e materiais esportivos (vestuário e equipamentos). Das 80 empresas consultadas, 63,75% afirmaram que o número de matrículas ou de vendas aumentou nos últimos dois anos. A expectativa de variação média para este ano é de 16,44%. A maioria — 60,78% — acredita que o desempenho melhorou porque as pessoas têm se preocupado mais com a saúde. Outros 21,57% sustentam que o incremento nos negócios é resultado do investimento em divulgação.



O preço da mensalidade nas academias do DF varia de R$ 30 a R$ 450, uma diferença de 1.400%. O gasto médio, de acordo com a pesquisa do Instituto Fecomércio, é de R$ 123,50. Os valores mais baixos são encontrados em cidades como Estrutural, Riacho Fundo, Ceilândia e Vicente Pires, locais para onde o mercado avança. As mais caras referem-se aos estabelecimentos que oferecem estrutura de clube. Ainda segundo o levantamento, 91% dos entrevistados dizem que adotam estratégias para conquistar mais clientes. Apostam principalmente em divulgação e propaganda (55,56%) e em promoções e brindes (19,45%).



As grandes redes nacionais de academia estão em Brasília. A Body Tech, a maior da América do Sul, já acumula 3,2 mil alunos em apenas dois anos e meio na cidade. Nela, a depender do plano, a mensalidade pode chegar a R$ 450, sem contar com os R$ 250 pagos pela matrícula e pela primeira avaliação física. A Unique, eleita por uma revista norte-americana a academia mais bonita do mundo, completou um ano com 2,5 mil matriculados. “O discurso de cuidar da saúde fez a cabeça do brasiliense e impulsionou o mercado. Quem não faz ginástica hoje em dia fica praticamente excluído das rodas de conversa”, comenta o presidente do Instituto Fecomércio, Miguel Setembrino.



O boom do fitness, porém, precisa ser encarado com cautela, na avaliação de Setembrino. “As pequenas academias terão dificuldades para sobreviver”, acredita. A euforia do mercado será tema de discussão em outubro, durante o Brasília Capital Fitness, congresso que ocorre desde 1995 e, só no ano passado, movimentou R$ 9 milhões. A primeira edição reuniu 300 pessoas. Para este ano, são esperados 65 mil visitantes. “A preocupação é saber se o mercado está saturado. O número de academias cresce mais rápido do que o de alunos e isso tem afetado a rentabilidade das empresas”, diz Fábio Padilha, sócio das academias Runway e um dos diretores do sindicato que representa o setor.



Desafios

Por enquanto, não faltam apostas no mercado local. Antônio Duarte investiu R$ 1,2 milhão para abrir a Body Company, que ocupa um espaço de 1.060 metros quadrados distribuídos em dois andares de um prédio da Asa Norte. Em quatro meses de funcionamento, ele acolheu 400 alunos. “Academia é viável em qualquer lugar, as pessoas estão dispostas a investir em saúde. O desafio é manter o público. Não adianta a pessoa só pagar a mensalidade”, avalia Duarte. A dona de casa Francineide Ramires, 55 anos, é frequentadora assídua. Malha todos os dias e renova matrícula há três anos. “Enquanto eu estiver em pé, estarei aqui. Aqui é meu mundo, onde me sinto bem”, diz ela.



Aluna da Unique, a chefe de cozinha Adriana Lobo, 35 anos, encara a atividade física como um investimento. “Plano de saúde deveria cobrir academia”, defende ela, que levanta peso há quatro anos. Somando as roupas e os suplementos alimentares que compra, gasta, em média, R$ 600 por mês na malhação. “O mercado brasiliense é sólido. Não sei se há espaço para mais crescimento, mas o público é fiel, mais do que em outras cidades”, compara Marcos Misti, diretor de marketing e vendas da Companhia Athletica, que completa uma década em Brasília com 2,6 mil alunos. A rede tem 15 unidades no país.



Outros segmentos pegam carona





Com seis lojas espalhadas na cidade, Alain Rodrigues trabalha com suplementos alimentares há cinco anos

O avanço das academias favorece o desempenho de outros segmentos. Em 2005, Alain Rodrigues abriu a primeira loja de suplementos alimentares no Sudoeste. Hoje, a Equilibrium tem seis unidades no DF. “As pessoas perderam o preconceito com a suplementação. Atletas, vegetarianos, idosos, todo mundo compra vitaminas e, principalmente, proteína”, conta Rodrigues. A cada 10 pessoas que entram nas lojas, quatro levam proteína, cujo pote pode custar até R$ 443. A pesquisa do Instituto Fecomércio apontou um gasto médio de R$ 112,81 nesse segmento.



As corridas de rua também pegaram carona na expansão das academias. Até o fim deste ano, só a BSB Fitness, empresa especializada em eventos esportivos, terá realizado quatro edições na cidade. Cada uma conta com pelo menos 2 mil participantes, que pagam entre R$ 40 e R$ 75 de inscrição. “Praticamente toda academia tem seu grupo de corrida hoje em dia. É um importante nicho de mercado”, comenta o sócio da empresa Brunno Falcão. Uma corrida chega a movimentar R$ 100 mil. Os patrocínios são cada vez mais disputados pelas empresas locais.



Para atender à demanda crescente, a loja de equipamentos esportivos Center Ciclo, pioneira em Taguatinga, expandiu os negócios para o Plano Piloto. Existem 200 clientes cadastrados, o dobro de cinco anos atrás. Em uma única venda, chega a entrar no caixa R$ 350 mil. Apenas uma esteira pode custar R$ 28 mil. “Falam em saturação, mas dificilmente uma academia fecha no DF. E todas precisam renovar os equipamentos em dois, três anos”, conta o gerente comercial da empresa, Érico Vinícius Figueiredo. Vendas para condomínios também crescem e já respondem por 30% do faturamento.



Academias

O preço das mensalidades nas academias do Distrito Federal subiu, em média, 5,08% nos últimos 12 meses, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV) — mais do que a inflação no mesmo período, que atingiu 4,44%, com base no índice calculado pelo IBGE. Apesar do reajuste, instrutores reclamam de baixos salários. Eles ganham, em média, R$ 8 por hora trabalhada — no contra-cheque, segundo os próprios funcionários, muitos empresários indicam apenas R$ 3, para fugir de impostos. A categoria não tem uma convenção coletiva que determine o piso salarial. Assim, muitos abandonam a profissão. Há nove faculdades de educação física no DF.



Fábio Padilha, um dos diretores dos Sindicatos das Academias do DF, diz que a hora/aula varia bastante. Segundo ele, há unidades que pagam até R$ 50. “A folha de pagamento corresponde de 30% a 40% do orçamento das empresas. Ela pesa bastante por conta do alto valor dos impostos”, comenta. O presidente do Instituto Fecomércio, Miguel Setembrino, avalia que a má remuneração de quem atua nas academias se explica pela busca exacerbada pelo lucro por parte dos empresários. “Se eles pagarem muito bem, não faturarão tanto”, diz.

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